Conhecidos por petró-economias, alguns países da África – entre eles Angola, Nigéria, Líbia, Moçambique e Guiné Equatorial – terão suas receitas e investimentos externos impactados pela oscilação do preço do barril de petróleo, e também pela demanda global por produção de energia com menos emissão de carbono possível.
As reservas petrolíferas desses países apresentam um custo de exploração entre 20 a 30% maior do que em outras regiões, e também são mais intensivas em carbono de petróleo e gás, numa proporção de 70 a 80% em relação a outras regiões, segundo a McKinsey, uma das maiores empresas de consultoria mundial do setor petrolífero.
Soma-se a esse grande impacto econômico o impacto social, porque os países têm necessidade de maior velocidade na resolução das questões em educação, infraestrutura, saúde e fortalecimento das instituições. Outro desafio é o boom do crescimento demográfico, que indica uma projeção de demanda de energia maior do que a capacidade de oferta, nos próximos anos.
.
Mas qual é o problema efetivo?
Os países importadores do petróleo africano já estão sinalizando a redução de investimentos para exploração de petróleo e gás – e não podemos não dizer que isso decorre de uma rigidez politicamente correta e de discursos hipócritas da ONU nas reuniões climáticas. A força econômica desses países tem incentivado a criação de legislação local para dificultar a aquisição de produtos provenientes de regiões que não possuem os selos verdes – isso num momento de escassez de energia em função da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, imagina quando terminar a guerra!
Só que, entre os países africanos, apenas a África do Sul possui uma legislação de precificação de carbono, elaborada em 2019. Portanto, o que estou querendo explicar é que a transição energética poderá acabar se traduzindo como um suicídio econômico para os países africanos exportadores de petróleo, dado que 50% da sua riqueza está atrelada a venda do petróleo.
E agora, qual é a solução?
Uma única solução para todos os países é um tanto quanto utópico, tendo em conta as questões culturais e regionais. Entretanto, podemos exercitar algumas hipóteses, que coadunam com o pensamento de Acha Lake, sócio sênior da Mckinsey, em Joanesburgo, capital da África do Sul.
- Descarbonizar e melhorar a eficiência de custos:
É possível avançar em tecnologia para descarbonizar a extração e a produção de hidrocarbonetos, e também melhorar a eficiência a partir de ações de monetização do gás desperdiçado na queima e de implantação de energia solar nos poços de extração – tudo isso contribui para o fornecimento de carbono zero.
- Investir em infraestrutura de baixo carbono:
Apesar de existirem reservas de gás natural nos países africanos, ainda é baixa a oferta de gás em relação à demanda; isso é um reflexo da falta de infraestrutura, como gasodutos, instalações de processamentos de gás, instalações de regaseificação de GNL costeira para a conexão de reservas retidas em terras e no mar, com centros domésticos de demanda industrial, comercial e de energia.
- Investir em energias renováveis
Enquanto os países das Zoropa e alguns das Azamérica se valem de sua capacidade financeira e tecnológica para acelerarem a transição energética, usando fontes como água, vento e sol, a verdade é que nos países Africanos essa transição tem maior potencial de aceleração no curto prazo, porque há uma abundante disponibilidade em prover os insumos dessas fontes de energia.
E agora, como ficarão os países de petróleo e gás na África?
Bem, tenho para mim, em caráter de resumo, que esses países apresentam um potencial enorme de dar a volta por cima e se tornarem protagonistas nesta fase de transição energética. Mas, como diz meu pai, “potencial não é realização”, alguns problemas básicos precisam ser resolvidos para estancar a perda do bônus demográfico africano (que hoje é atraído para as Zoropa e Azamérica), principalmente os problemas de água, luz, e saneamento básico, enquanto os lugares de chegada garantem a manutenção do seu status de vida.
Claro que, no mar de oportunidades e desafios que oferecem os países africanos, existem outros setores a serem explorados, como o agronegócio e o turismo, por exemplo. As empresas brasileiras Agrimec e Ubuntu Viagens já deram a largada e estão exportando máquinas e importando cultura identitária, respectivamente.
Por hoje fico por aqui e sugiro que continue seguindo a Uangoo para mais informações sobre o continente africano. Sugiro também o livro A Revolução Empresarial da África, uma obra-prima sem precedentes sobre o mundo empresarial no continente.
Por Timóteo Sousa.
Fonte: