Exposição que começa neste sábado (30/10/23) no Museu da Cidade apresenta o continente a partir das suas artes ancestrais e também oferece uma visão contemporânea do que é construído por lá
Publicado em Correio Popular: Aline Guevara/ cadernoc@rac.com.br | 30/09/2023 às 09:33.
Quando falamos em África, a imagem que a maioria das pessoas deve ter na cabeça é a de um local subdesenvolvido, com muita pobreza e várias florestas. Ainda que esse cenário represente, sim, algumas regiões africanas, há muito mais nesse imenso continente – inclusive desenvolvimento urbano e tecnológico – que passa despercebido por muita gente. E é exatamente com o objetivo de abrir os olhos do público para essa realidade que chega neste sábado, 30, a Campinas a Mostra Cultural Afrofuturista, no Museu da Cidade na Casa de Vidro, no Parque Taquaral. A entrada é gratuita e a abertura às 10h.
São 30 peças expostas, entre obras africanas e também outras criadas por brasileiros que fazem uma ligação entre o afrofuturismo e a arte africana tradicional. “O afrofuturismo se refere a um olhar sobre a construção das nações africanas no tempo contemporâneo. Ele olha para o passado, mas também do presente para o futuro para ver o que o continente está construindo, a partir dessa tradição ancestral, para seu desenvolvimento como nação”, explica o curador Odair Marques da Silva, pesquisador do tema e autor do “Atlas GeoCultural da África” (da Editora Eiros do Brasil). No livro, o escritor explana sobre essa África Moderna, com fotografias exemplificando as cidades desenvolvidas e inovadoras, e que estão espalhadas por todos os 54 países do continente. “Com a mostra queremos quebrar o estereótipo que existe sobre o continente africano que só existe pobreza e fragilidade”.
CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO MODERNA
Entre as obras estão máscaras, papiros egípcios, vestimentas, tudo no âmbito da arte ancestral, mas também painéis fotográficos que revelam construções de cidades modernas na África. O curador cita a cidade de Wakanda, nos filmes de “Pantera Negra”, para contar que o movimento do afrofuturismo não olha para esse futuro utópico e longínquo do cinema e do quadrinho, mas há, sim, iniciativas urbanas muito bem planejadas e até tecnológicas. “Mas para fazer Wakanda, o olhar do produtor já está em cidades africanas que estão em construção. Como a Konza Technopolis, no Quênia, um distrito industrial com apartamentos para moradia, que o governo está apoiando a construção para atrair jovens que hoje estão nas universidades e startups. Assim como essa, várias cidades africanas – Nova Cairo, no Egito, e Abuja, na Nigéria – estão olhando para Dubai e para cidades planejadas como Brasília”, informa Odair.
Ele ainda cita a aclamada escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que afirma que existe uma África urbana também, com museus, universidades, shopping centers gigantescos, em pleno desenvolvimento, mas que não é mostrada. “No Brasil, a gente praticamente desconhece essa África”, completa o curador.
LIGAÇÃO ENTRE BRASIL E ÁFRICA
Uma das importâncias de exposições como a Mostra Cultural Afrofuturista é expor uma visão mais realista do continente para a população brasileira, que tem mais metade do seu número composto por afrodescendentes. “De 215 milhões de habitantes, 120 milhões são descendentes da cultura africana. E não conhecemos direito esses povos, especialmente na África moderna. Como vamos gerar essa noção de pertencimento e identidade, ou mesmo apreciar esse continente? Isso é uma proposição afirmativa contra o racismo, inclusive. Precisamos ter essa referência viva”, complementa o curador da mostra, que fica em cartaz até 29 de outubro.
PROGRAME-SE
Mostra Cultural Afrofuturista
Quando: abertura sábado, 30/9, às 10h, visitação de segunda a sábado, das 10h às 12h e das 14h às 17h, até 29/10
Onde: Museu da Cidade na Casa de Vidro – Av. Dr. Heitor Penteado, 2145, Parque Taquaral
Entrada gratuita